Filosofia Prática e Ceticismo Moral: Sobre Kant e Hume

Mestrado em Filosofia - Projeto de Pesquisa de Mestrado

Autor

Paulo Roberto Martins Cunha

Data de Publicação

10 de maio de 2025

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Palavras-chave

Kant, Hume, Filosofia Prática, Ceticismo Moral

1 Projeto de Pesquisa para a Dissertação

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Exemplo de legenda para a figura

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1.1 Delimitação do tema do Mestrado

Na Segunda Secção da Fundamentação da metafísica dos costumes, em que se propõe a fazer a passagem do pensamento moral popular à metafísica dos costumes, Kant faz uma constatação que parece atingir em cheio toda ideia de metafísica. Ele nos diz com sinceridade: Kant (2012), Kant (2007)

Na realidade, é absolutamente impossível encontrar na experiência com perfeita certeza um único caso em que a máxima de uma ação, de resto conforme ao dever, se tenha baseado puramente em motivos morais e na representação do dever” (Kant, p. 40) @

Essa é uma colocação acerca da nossa experiência moral que, em princípio, é a expressão clara da impossibilidade, para os homens, de agirem segundo princípios morais gerais, embora saibamos que a intenção de Kant com a sua Fundamentação é encontrar justamente algo que desempenhe essa função, servindo de critério puro e necessário para toda e qualquer avaliação do comportamento moral. Na Fundamentação, Kant chamará a esse princípio puro de “autonomia da vontade”.

Ocorre que o que expressa o filósofo na passagem citada é, indiscutivelmente, a mesma constatação que está na base de todo ceticismo moral. Uma das razões, só para tomar um exemplo, seria o desentendimento reinante acerca do que se quer dizer quando o assunto é a moral ou a ética. Adauto Novaes, em um livro de múltiplos autores por ele organizado, nos diz que existem várias teorias sobre o tema porque: “A palavra ética, por exemplo, não tem o mesmo sentido para todos” (Novaes, 2007, p. 8). E seria essa falta ou mesmo impossibilidade de se chegar a algum consenso a respeito do comportamento moral que produziria em nós quase que naturalmente o que chamaremos aqui de ceticismo moral, para que não se confunda, inicialmente, com o ceticismo epistemológico ou cognitivo. Mas é o cético Hume, que desconfiava da pureza do entendimento humano, quem escreve, em um tom de admiração:

Para alguns filósofos parece constituir motivo de surpresa que, sendo todos os homens dotados da mesma natureza e possuidores das mesmas faculdades, apesar disso sejam tão imensamente diferentes em suas ações e tendências, e que uns condenem intransigentemente o que outros prazerosamente procuram (Hume, 1980, p. 215)

Hume se admira que ainda se encontre aqui alguma surpresa, afinal, um mesmo homem pode ter comportamentos contraditórios, como se nunca seguisse, para si mesmo, as mesmas regras ao agir. Para Hume isso é uma constatação, até porque a história humana é o registro de fatos e narrativas de ações que põem em questão a ideia de que os homens possam um dia encontrar um guia seguro para suas ações, como aparentemente fizeram com seus juízos científicos. O fato é que o homem real, existente, não é como o cientista real, como um Newton, por exemplo.

Mesmo assim, sabendo que a Física tem uma parte empírica e real, mas, também, uma parte racional, Kant se pergunta se as ações humanas não poderiam ser estudas separando a parte empírica da parte pura. Pois assim poderíamos distinguir nossa reflexão sobre o homem em suas ações pragmáticas, que Kant chama de “Antropologia prática”, das reflexões voltadas às exigências feitas às ações e que não se explicam pelo seu efeito imediato. E é a essa última forma de reflexão que Kant chamará de “Moral”. Com isso, poderíamos nos guiar não pelo que sabemos da história humana e dos feitos dos homens, mas o que a razão em nós nos diz, constantemente, que deveríamos fazer, mesmo que, pelos mais variados motivos, não o consigamos realizar.

Por isso, o que estamos proponde analisar nesta dissertação é o seguinte: qual a solução kantiana para o problema do ceticismo moral, e qual o grau de satisfação podemos reconhecer no modo como ele trata a questão, na medida em que ele mesmo reconhece que, na realidade, a teoria é outra coisa? Por que ele se pergunta: “Não é verdade que é da mais extrema necessidade elaborar um dia uma pura Filosofia moral que seja completamente depurada de tudo o que possa ser somente empírico e pertença à Antropologia?” (Kant, 1974, p. 198).

1.2 Problema

1.3 Justificativa

1.4 Objetivos

  1. Gerais: Expor a solução kantiana ao problema do ceticismo moral.
  2. Específicos: 1. Apresentar a filosofia crítica como uma reação positiva ao ceticismo moderno, em especial no que tange sua perspectiva moral; 2. Recensear, com o auxílio da obra de Hume, alguns pontos fundamentais para a contestação da orientação racionalista e idealista da moralidade; 3. Mostrar que a resposta kantiana ao “´problema de Hume”, além de seu alcance teórico, contém a chave para a possibilidade lógica da moral.

1.5 Metodologia

1.6 Cronograma

Este projeto de pesquisa de mestrado está previsto para ser desenvolvido inicialmente num período de dois anos. De acordo com o tema escolhido e os objetivos propostos, esperíodo inicial deve ser dividido em quatro sub-períodos de pesquisa, que correspondem a quatro semestres, de modo a compreender os seguintes campos de investigação:

  • 1º semestre: Além de cursar as disciplinas para obtenção dos créditos, fazer um levantamento de novos títulos e revisão bibliográfica. Com isso cremos poder reforçar e consolidar a estrutura do projeto.
  • 2º semestre: Pretendemos dar continuidade ao cumprimento dos créditos, se necessário, e estruturar a construção do primeiro capítulo da Dissertação, cujo objetivo é apresentar os fundamentos para a nossa abordagem do pensamento de Rousseau e dos primeiros românticos.
  • 3º semestre: Nossa intenção é a de reunir, sobretudo no Discurso sobre as ciências e as artes e no Emílio, os elementos para uma dissertação sobre as noções de subjetividade e sentimento em Rousseau.
  • 4º semestre: Neste momento nossa atenção deverá ser dirigida à seleção de fragmentos de Novalis e Schlegel nos quais possamos reconhecer o reflexo, por assim dizer, de uma concordância de percepção do romantismo alemão com o que prenuncia Rousseau em suas obras, procurando corrigir as distorções comuns com as quais se tenta associar esses dois momentos da história da filosofia moderna mediados pela filosofia crítica. Até o final desses quatro semestres acreditamos poder reunir material suficiente para dar conta dos nossos objetivos.

Referências

KANT, Immanuel. Crítica da Faculdade do Juízo. tradução: Valerio Rohde; António Marques. 2. ed. São Paulo: Forense Universitária, 2012. (Biblioteca de Filosofia). p. 382
KANT, Immanuel. Critique of judgement. tradução: James Creed Meredith. Oxford, UK: Oxford University Press, 2007. (Oxford World´s Classics). p. 446